terça-feira, 12 de janeiro de 2016

NÃO DEIXEMOS DE CONGREGAR COMO É COSTUME DE ALGUNS!


Hebreus 10. 19-25

O conteúdo da carta aos Hebreus é dividido em duas partes principais: a) doutrinária; b) prática ou pastoral. O autor expõe na parte doutrinária que Cristo é o clímax da revelação de Deus (1.1-3); a sua superioridade em relação aos anjos, Moisés, sacerdócio Levítico (1-11); explicação sobre a tipificação e simbolismo das cerimonias no Antigo Testamento, como sombra do que haveria de vir, Cristo (10. 1-18) e que Cristo é sumo-sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. A segunda parte ele aborda de modo prático como os crentes hebreus deveriam viver a luz dessas verdades doutrinárias. O autor exorta a Igreja não agir como os apostatas (6. 1-12); a não cometerem o mesmo erro que o povo de Israel cometeu no passado rebelando contra o Senhor e apostatando da fé (10.26-31); exorta esses hebreus ao progresso na Fé como fizeram os homens e mulheres de Deus no Antigo Testamento, sempre olhando para o consumador e autor da nossa fé, Cristo (11-12); perseguir a santidade (12. 14-17); deveres Sociais e amor fraternal (13. 1-6) e deveres espirituais em relação aos pastores (13. 7-17).
É nesse contexto doutrinário e pastoral que o autor exorta os leitores originais e também a nós, a não deixar de congregar, como era o costume de alguns. Mas antes de expor propriamente o texto que originou o tema desse artigo, é preciso que exponha rapidamente os versos imediatamente anteriores a passagem. O autor usa muitas figuras do Antigo Testamento para mostrar aos seus leitores originais, que eram hebreus convertidos, que esses ritos, cerimonias, sacerdócios em Israel, eram sombra de Cristo! Ele falou sobre a ineficácia dos ritos e leis cerimonias do Antigo Testamento
Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das cousas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente eles oferecem.
(10.1)
Os sacrifícios diários e anuais em Israel nunca foram exigidos por Deus como uma forma permanente de purificação de pecados. Mas serviam para apontar para a morte sacrificial de Cristo, que de uma vez por todas cancelaria o escrito de dívida que pesava sobre nós (Cl 2. 13-15). O autor reafirma essa verdade ao dizer:
Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.
(10. 3-4)
Os sacerdotes apresentam sacrifício diariamente, todavia, Cristo como sumo sacerdote e a própria oferta, apresentou-se perante o Senhor nos Santos dos Santos de uma vez por todas (10. 11-18). Através de Cristo e pelos seus méritos expiatórios, temos livre acesso a presença do Pai:
Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus,
(10.19)
O autor está dizendo a esses irmãos hebreus que em Cristo todos os ritos cerimoniais no tabernáculo e depois no templo, se cumprem. Em Cristo temos acesso a presença do Pai, porque Ele é o Novo e Vivo Caminho! Como o próprio Jesus afirmou aos discípulos, que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida e ninguém pode ir ao Pai senão por ele (Jo 14.6). Devemos entrar na presença de Deus com ousadia, intrepidez, confiados nos méritos de Cristo, porque ele é o nosso Mediador (1 Tm 2.5), o nosso Advogado Justo (1Jo 2.1-3); e a nossa justificação (Rm 5.1)! O véu foi rasgado de uma vez por todas! A carne de Cristo era tipificada pelo véu no templo! Quando Cristo morreu na cruz, é dito que o véu do templo rasgou de alto a baixo (Mt 27. 51-53).
Não existe mais necessidade de sumo sacerdotes, temos um único Sumo sacerdote que nos representa na presença do Pai, para sempre! O Senhor Jesus é o grande sumo sacerdote na Casa de Deus (10. 21-22). O sacerdócio levítico apontava para Jesus (7. 4-19). Os sumos- sacerdotes da casa de Arão, apontavam para o Sumo Sacerdote segundo a Ordem de Melquisedeque (7. 1-3). Para ele tudo converge, se cumpre! Por isso, devemos entrar com coração sincero e plena certeza de fé na presença do Senhor (10. 23)! A convicção de fé envolve crer em tudo que a Escritura testemunha sobre Jesus. O coração sincero é de alguém que foi alcançado pela graça.
A NECESSIDADE DE CONGREGAR
    Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras.
(10. 24)
O autor exorta esses crentes a congregar, considerando um aos outros, para que mutuamente ocorra o estimulo espiritual para a caminhada. A comunhão da igreja é além de outros fatores, uma forma de estimulo espiritual. O amor é estimulado, e a santidade é desenvolvida como maior intensidade. A relação social na comunidade cristã exerce sobre nós o aperfeiçoamento na fé!
Não deixemos de congregar-nos como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.
(10. 25)
Porque o autor fala para não deixar de congregar? Porque alguns haviam deixado: a) muitos haviam abandonado a fé e a igreja (6. 4-8); b) retrocederam na fé, voltando a práticas judaicas já cumpridas em Cristo (10. 32-39); c) muitos que estavam congregando estavam com as mãos descaídas, joelhos trôpegos e profundamente desanimados na fé (12. 12-13). Logo, esses irmãos deveriam se firmar na  esperança da Volta de Cristo, que virá para buscar o seu povo, e não os apostatas ou desigrejados! O termo “desigrejado” é moderno, apenas uso para contextualizar a mensagem a nossa realidade que essencialmente é a mesma do autor. Não quero dizer com isso que desigrejados não serão salvos porque estão fora da igreja. A igreja não salva ninguém, muitos que estão na igreja não serão salvos, porque nunca conheceram realmente o Evangelho! É verdade que muitos desigrejados em nossos dias estão nesse estado por uma frustração com pastores da Teologia da Prosperidade, por problemas de relacionamentos com outros membros da igreja, e por total imaturidade espiritual e ignorância bíblica, por nunca terem conhecido ministérios pastorais sérios e bíblicos, acham que todas as igrejas e pastores são hereges. Para esses, falta conhecimento e maturidade cristã. Contudo, muitos que são desigrejados por que abandonaram deliberadamente a vida em comunidade, a batalha da igreja, demonstram com isso, nunca terem conhecido realmente o Evangelho! Porque alguém que conhece o Evangelho e o Supremo Pastor da igreja, anseia fazer parte do povo em adoração e serviço. Não existe mensagem na Bíblia para desigrejados, só existe para “igrejados”! O culto na vida diária e individua,  leva o crente a participar do culto coletivo com o povo de Deus! É completamente incoerente que alguém afirme ser um verdadeiro adorador e não deseje intensamente adorar juntamente com o povo de Deus e ser pastoreado por pastores fiéis que expressem o pastoreio de Cristo (Hb 13. 7-9).
A Vinda do Supremo Pastor está próxima, e devemos nos exortar mutuamente para que vigiemos e perseveremos nessa esperança. Quem não congrega, não pode ser exortado a vigilância e santidade, pois vive no individualismo e egoísmo, disfarçado de piedade! Talvez seja essa uma das maiores razões para a existência de desigrejados, a arrogância e prepotência, que o impede de viver em comunidade, ser orientado pastoralmente, submeter-se a uma liderança bíblica (Hb 13. 7-17) e ser instruído pelo convívio bom e as vezes conflitantes com os demais membros da igreja!
A vida fora da comunidade cristã, da comunhão dos santos, estimula a prática de pecados (10. 26-27): Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. A razão é simples, quando estamos em comunhão com os santos em Cristo, somos exortados por Deus através de pregações fiéis, exortados por irmãos piedosos, confrontados com o bom exemplo de muitos irmãos, tudo isso nos estimula a buscar o Reino de Deus e sua justiça (Mt 6.33). Todavia, quando estamos distantes da igreja, somos mais suscetíveis as tentações da carne, do mundo e do Diabo. O curso natural é afastar-se progressivamente da santidade e cometer vários pecados que começam a ser justificados na mente como normais e que os que a igreja prega contra é fruto de religiosidade e legalismo. Não discordo que na igreja existem práticas proibidas que não são proibidas por Deus, fruto de tradição e costumes errados, mas é também verdade que na igreja fiel a Escritura, somos exortados constantemente a santidade!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Temos livre acesso a presença do Pai, pelo novo e vivo Caminho, Cristo! Devemos entrar diariamente em oração, por meio do nosso Mediador! Precisamos perseverar até o fim, crendo em todas as promessas redentoras de Deus, feitas a nós! Corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o autor e Consumador da nossa fé, Cristo (12. 1-3)! Sem, contudo, deixar de servir a Cristo na comunhão dos santos.
Aprendemos com esse texto que é na comunhão da igreja que nos estimulamos   na fé na esperança! É na comunhão da Igreja que nos exortamos a viver em santidade! É na comunhão da Igreja que amadurecemos na fé! A igreja não é perfeita, é composta de pecadores salvos pela graça, mas se fosse perfeita, deixaria de ser quando você entrasse para adorar!
Viver isoladamente, é uma clara evidência de falta de piedade, e talvez de conversão! O crente verdadeiro anseia e se alegra por estar com o povo de Deus! O crente verdadeiro usa seus dons para edificar o outro! O crente verdadeiro compreende as falhas da igreja e luta em oração para que ocorra arrependimento e quebrantamento da mesma! O crente verdadeiro clama a Deus para fortalecer a Igreja! O verdadeiro adorador anseia pelo Dia que congregará com uma multidão incontável perante aquele que está no trono e ao Cordeiro, na Nova Jerusalém (Ap 7. 9-17)! A Ele toda a glória, hoje e sempre! Amém.

Reverendo Márcio Willian Chaveiro 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O CRISTÃO PODE FICAR DOENTE OU É FALTA DE FÉ?



Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi transpassado pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
(Is 53. 4-5)
Você já ouviu pregações que afirmam que o crente verdadeiro não pode aceitar a doença em sua vida? Declarações como: “eu declaro em nome de Jesus que essa doença vá embora!” É muito comum no meio evangélico, esses pregadores afirmam que sua declaração de “fé” é poderosa para mudar as circunstâncias adversas da sua realidade. Nosso real problema seria, nessa visão, os problemas de saúde, material e fracassos nas realizações pessoais! Se isso é verdade, nossa fé não se limitaria somente a este mundo (1 Co 15. 19)? Alguns crentes não tomam remédios porque não aceitam a doença em suas vidas, determinam, "brigam com Deus" e acreditam que suas enfermidades foram curadas por sua fé!
Um dos textos mais utilizados para fortalecer esse argumento de que o cristão não pode ficar doente é Isaías 53.4-5, o qual afirma que Jesus levou sobre as nossas dores e enfermidades. Se ele levou na cruz, toda doença e castigo, significa que não podemos ficar doentes? Alguns poderiam dizer que existe uma diferença entre você crer pela fé nessa “promessa” e você não crer verdadeiramente, então, nesse sentido o problema estaria na declaração de fé do crente e não na promessa.[1] Por outro ângulo, a promessa para ser eficaz depende das ações dos homens, caso contrário Deus não poderia cumprir suas promessas!
O teólogo Anthony Hoekema, acertadamente esclarece sobre os sofrimentos que ainda fazem parte da vida do crente:
...O sofrimento ainda acontece na vida de cristãos porque ainda não foram eliminados todos os resultados do pecado. O Novo Testamento ensina que “através de muitas tribulações, nos importa entrar no Reino de Deus” (At 14.22). Paulo conecta nosso sofrimento presente com nossa glória futura (Rm 8.17,18). E Pedro aconselha seus leitores a não se surpreender com o “fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo”, mas antes “alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo” (1Pe 4. 12-13).[2]
As provações e lutas que enfrentamos aqui são meios que Deus utiliza para nos tornar progressivamente a imagem de Cristo, esse é o alvo principal revelado nas Escrituras (Rm 8.28)! Francis Schaeffer falou sobre os privilégios que temos aqui de desfrutar de experiências sobrenaturais antes de vermos Cristo face a face: ...A eternidade será maravilhosa, mas há uma coisa que o céu não terá: é a chamada, a possibilidade, e o privilégio de se viver uma vida sobrenatural aqui e agora pela fé, antes de ver Jesus face a face.[3] Quando a igreja perde o proposito maior de sua existência que é glorificar a Cristo como seu cabeça (Ef 1. 15-23; 2.11-22; 4. 7-16), ela perde sua identidade completamente! Se identificar com Cristo é também sofrer por Ele e enfrentar os efeitos da Queda com alegria nele (Rm 8.17-18; Fl 4.4-7).
Mais uma vez cito Hoekema para avaliarmos o estado espiritual da igreja pos moderna:
...É possível que a Igreja atual esteja tão envolvida em assuntos materiais e seculares que o interesse pela Segunda Vinda esteja se desvanecendo no segundo plano. É possível que muitos cristãos não mais creiam numa volta literal de Cristo. É também possível que muitos dos creem num retorno literal empurrem este evento para tão longe, no futuro distante, que não vivem mais na espera dessa volta. Sejam quais forem as razões, a perda de uma viva expectativa da Segunda Vinda de Cristo é um sinal de uma enfermidade espiritual das mais sérias na Igreja....[4]
A igreja deve viver na expectativa da volta de Cristo, quando ela não vive assim, demonstra que seu olhar para as Escrituras mudou completamente! Essa interpretação equivocada de passagens de redenção por meio de Cristo, como o de Isaías 53, revelam o quanto os evangélicos atuais, não compreendem o Evangelho real! A problemática dessa realidade pode ser descrita desta forma:
Todos os homens aspiram ser salvos do sofrimento, porém não desejam ser salvos do pecado. Gostariam de ter suas vidas salvas, mas querem continuar com suas luxurias. De fato, muitos divergem nesse ponto. Ficariam contentes se alguns de seus pecados fossem eliminados, mas não conseguem deixar o colo de Dalila nem divorciar-se da amada Herodias. Não podem ser cruéis com o olho direito ou com a mão direita....[5]
Entendo o texto de Isaías 53. 4-5
Essa é uma profecia chamada de messiânica, que fala do Messias, como servo sofredor, que leva sobre si as culpas e iniquidades do povo do Senhor! Muitos ao lerem essa passagem erroneamente interpretam que o crente não pode ficar doente! Devido a essa interpretação herética, muitos verdadeiros cristãos ficam em crise emocional e espiritual, por passarem por sofrimentos na saúde e na vida material. Se sentem inferiorizados na igreja que frequentam e o Evangelho para eles que deveria ser fonte de consolo e força na caminhada cristã, é visto como pedra de tropeço!
Se essa interpretação do texto de Isaías 53.4-5 for correta, cria-se um gravíssimo problema em toda a Escritura, porque em diversos textos é narrado, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, que homens e mulheres de Deus tiveram enfermidades (Jó 2.7-8; Is 38. 1-8; Sl 88;  Sl 102. 1-7; 1 Tm 5. 23)! Se você acredita que a Escritura não tem contradições, o texto de Isaías 53 não pode ser interpretado da forma que os teólogos da prosperidade interpretam! Então, qual é a interpretação correta do texto?    
Vou expor princípios interpretativos na interpretação de texto profético, que são fundamentais para entender essa passagem:
1. Primeiro princípio é que a Bíblia interpreta a própria Bíblia. Esse princípio interpretativo vale para toda a Escritura, sendo essencial no processo de compreensão de qualquer passagem. Logo, o ensino da profecia messiânica em Isaías 53 não pode estar em contradição com o restante da Palavra de Deus.
2.  Segundo princípio é que a revelação é progressiva e portanto o texto profético se cumpre progressivamente até seu clímax, a consumação do Reino Messiânico. Esse ponto ressalta a aplicação dessa passagem. Sem dúvida Isaías 53. 4-5, como todo o capítulo, aplica-se a Cristo, porém, seria essa aplicação somente na primeira vinda ou existem aspectos que são aplicáveis na primeira vinda e outros somente na segunda? Será que podemos entender que alguns aspectos podem ser aplicados na primeira vinda parcialmente e ter o seu cumprimento absoluto na segunda vinda? Como afirmou Van Groningen: ...O sentido é: o que ele sofreu, nós merecemos....[6]
Abaixo exemplifico a resposta para essas questões segundo a própria estrutura do texto de Isaías 53:
Aspectos proféticos que se cumpriram cabalmente na Primeira Vinda de Cristo
 A humilhação de Cristo
Versos 1-3: Não havia nele nada que atraísse os homens, foi rejeitado, homem de dores, desprezado pelos judeus que tanto aguardavam o Messias.
Versos 4-5: Sofreu os efeitos da Queda em seu corpo, e nos representou na cruz como Cordeiro substituto, para que fossemos sarados (justificados e santificados progressivamente)
Versos 6-8: Estávamos mortos em delitos e pecados, mas ele foi levado em nosso lugar para o sacrifício como ovelhas muda, para sofrer o juízo em nosso lugar, por causa da nossa transgressão foi ferido.
Verso 10: Após a sua morte na cruz foi sepultado em sepultura de rico. Morto sem culpa, sem pecado, para que o SENHOR, o moesse em nosso lugar, para que a dívida que tínhamos com o SENHOR fosse quitada de uma vez por todas nele.
Aspectos proféticos que se cumprirão na Segunda Vinda de Cristo
Verso 10 ...verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos.  A vontade do SENHOR após moê-lo em nosso lugar na cruz, prosperará. O Servo Sofredor verá o fruto do seu sacrifício e a justificação dos eleitos, e ficará satisfeito.
Verso 12: Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte,... O Pai dará a ele muitos eleitos, devido ao seu sacrifício remidor, e Cristo intercederá por aqueles pelos quais morreu

Aspectos proféticos progressivos em seu cumprimento entre a primeira e a segunda vinda de Cristo

As enfermidades e dores que Jesus tomou sobre si, foram cumpridas parcialmente na sua primeira vinda, quando curava os enfermos, para mostrar que a sua obra substitutiva eliminaria completamente os efeitos da Queda sobre os eleitos.

Textos que comprovam essa interpretação no Novo Testamento:

Cumprimento parcial
Mt 8. 16-17: Chegada à tarde, trouxeram-lhe muitos endemoniados; e ele meramente com a palavra expeliu os espíritos e curou todos os que estavam doentes; para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças.

Cumprimento Total
Ap 7. 16-17: Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima.
Ap 21. 3-4: E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras cousas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as cousas. E acrescentou: escreve, porque as estas palavras são fiéis e verdadeiras.
O Dr. Van Groningen explica esse simbolismo dentro da passagem de Isaías 53.4-5:
O simbolismo que nos vem à mente é a do bode emissário, que tinha a iniquidade do povo colocada sobre ele, que a levava para o deserto (Lv 16.22). O conceito de substituição é claramente proclamado. Toda a tristeza, dor e sofrimento relacionados com essa enfermidade o Servo experimenta, porque ... (ele pessoalmente levou-as). Tornaram-se suas quando ele as tirou do povo em favor de que ele sofre.[7]
Dentro dessa progressividade da revelação, vemos em outras passagens a expectativa no Antigo Testamento por partes dos crentes, que o descendente da mulher removeria definitivamente as maldições causadas pela Queda. Aparentemente Eva tinha essa expectativa quando nasceu Caim, o que posteriormente mostrou-se o contrário de sua esperança (Gn 4. 1). Lameque ao nascer Noé expressou sua expectativa de que ele fosse o Messias que o livraria das maldições da Queda (Gn 5. 29): pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou. O SENHOR assumiu as maldições da quebra do pacto em lugar de Abraão ao passar pelo meio dos animais partidos, simbolizando as consequências sobre aquele que quebrasse a aliança (Gn 15. 12-21).  Posteriormente é interpretado por Paulo e aplicado a Cristo como sendo este que assumiu as maldições da Queda sobre si (Gl 3. 6-17).
Portanto, quando Isaías profetizou que Cristo levaria sobre si as nossas dores e enfermidades, essa profecia se cumpriria progressivamente, iniciando na primeira vinda, quando Cristo operava milagres para mostrar que ele é o Redentor prometido que redimirá o seu povo e a criação, e tendo o seu cumprimento absoluto na segunda vinda quando nossos corpos serão transformados a semelhança do corpo dele (1 Co 15. 50-58). Da mesma forma que ele ressuscitou Lázaro para mostrar que Ele é a ressurreição e a vida, e quem crer nele, será ressuscitado no último dia (Jo 11. 21-26), os que foram curados na sua primeira vinda serviram para mostrar parcialmente o que será realizado completamente e de forma definitiva na segunda vinda! Isso não significa que Cristo não cure hoje, mas que nem sempre ele cura ou livra o justo do sofrimento decorrentes da Queda ou da obediência ao Evangelho, porque? A razão é simples,  os efeitos da Queda sobre todos os homens, como doenças, limitações de todas as formas, degradação da criação e suas consequências, acidentes, e outros só serão removidos na glorificação (Rm 8.18)!
Outro fator fundamental é que existe um plano muito maior por trás das circunstâncias difíceis, com significado eterno, que é nos tornar a imagem dele progressivamente mesmo em meio a aflições e sofrimentos temporários, por isso todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8. 17-18, 28-30)! A Redenção é um plano muito maior que simplesmente nos livrar de dores transitórias!
A primeira vinda de Cristo inaugurou o Reino, a Segunda Vinda consumará o Reino! Logo, estamos no “já e ainda não”, vivemos as realidades presentes do Reino dos céus na medida que conhecemos a Cristo, nos despimos do velho homem e revestindo do novo (Ef 4. 17-32). Nosso alvo é Cristo, por isso devemos correr a carreira que nos esta proposta, olhando firmemente para o autor e consumador da nossa fé (Hb 12.1-3), prosseguindo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus, esquecendo as coisas que para trás ficam e avançando para as que estão diante de nós (Fl 3.12-16), porque não somos daqueles que retrocedem para a perdição, mas daqueles que prosseguem para a salvação, vivendo pela fé (Hb 10.32-39)!
Temos a convicção inabalável que Cristo nos redimirá do pecado e dos seus efeitos de uma vez por todas! Teremos plena comunhão com o Senhor e cantaremos com os anjos diante daquele que está no trono e do Cordeiro (Ap 7.10): ...Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação.
Reverendo Márcio Willian Chaveiro






[1] https://www.youtube.com/watch?v=qoaZ0iIQnhk
[2] HOEKEMA, Anthony Hoekema, A Bíblia e o Futuro, Cultura Cristã, 1989, p.88
[3] SCHAEFFER, Francis A. Schaeffer, Verdadeira Espiritualidade,  Cultura Cristã, 1999, p. 94
[4] HOEKEMA, 1989, p. 133
[5] ALLEINE, J. Alleine, Um Guia Seguro para o Céu, PES, 2002, p.56
[6] GRONIGEN, Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica, LPC, 1995, p. 573
[7] GRONINGEN, 1995, p. 573

QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS BÍBLICAS ESSENCIAIS QUE UMA IGREJA PRECISA TER?


Igreja é uma palavra que vem do grego, e nesta língua significa assembleia, multidão, ajuntamento popular. Qualquer grupo que se reunisse para tratar dos mais diversos fins era, para os gregos, uma igreja (Eclésia). Os escritores sagrados, para descrever as novas ideias que surgiram na nova religião, empregavam alguns vocábulos gregos com nova significação e acrescentavam a outros alguma coisa no sentido que já possuíam, então, "Igreja" deixou de significar um mero aglomerado de pessoas, para designar a assembleia ou reunião de pessoas para prestar culto a Deus.
No sentido bíblico, a igreja é a comunidade de todos os cristãos de todos os tempos.[1] O teólogo luterano Paul Tillich comentou corretamente sobre a igreja como comunidade dos crentes dentro das igrejas: ...a verdade de que a igreja, a Comunidade Espiritual, sempre vive nas igrejas e que onde quer que existam igrejas confessando que seu fundamento está no Cristo como manifestação central do Reino de Deus na história, ali está a igreja.[2] Ele argumenta nesse ponto que a falta de visão dessa duplicidade da igreja, comunidade dos crentes nas igrejas, é demoníaco, porque o contrário disso gera uma visão religiosa extremista como ocorreu no catolicismo romano.
Nas Escrituras encontramos vários textos que falam sobre a igreja com figura de linguagem. Paulo usa várias metáforas para igreja em Efésios 2. 19, 21-22. Ele a compara com família de Deus (verso 19); edifício e santuário (verso 21); tabernáculo para a habitação de Deus (verso 22). A igreja é chamada de “noiva de Cristo” quando Paulo fala da relação conjugal e afirma que o mistério no qual se referia é sobre a relação de Cristo com a igreja (Ef 5. 32): Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e a igreja. No Antigo Testamento Deus se relacionava com Israel como um marido se relaciona com sua esposa, todavia, a nação adulterou espiritualmente e se prostituiu com outras nações, abandonando o seu Amado (Ez 16. 1-20). Porém, no Novo Testamento, é a igreja, composta de judeus e gentios alcançados pela graça, que é considerada noiva ou esposa de Cristo (2 Co 11.2)!

Os reformadores entendiam que a igreja de Cristo tem características essenciais que a diferem de qualquer ajuntamento, que não seja verdadeiramente igreja. Existiram muitos debates entre os reformados sobre quantas e quais seriam essas marcas da igreja. Alguns defendiam que seria apenas uma, a pregação fiel da Palavra, outros defenderam que seriam duas, a pregação da Palavra e o exercício correto dos sacramentos. E por último, alguns defenderam que seriam três: Pregação fiel da Palavra, exercício correto dos sacramentos e disciplina.[3] O que podemos claramente observar é que embora não exista consenso entre os teólogos reformados com relação as marcas distintivas da igreja, uma marca é consenso entre todos, a Pregação Fiel da Palavra.
A Confissão de Fé de Westminster faz a seguinte afirmação acerca das características básicas da igreja (Capítulo XXV, IV):
Esta Igreja Católica tem sido ora mais, ora menos visível. As igrejas particulares, que são membros dela, são mais ou menos puras conforme neles é, com mais ou menos pureza, ensinado e abraçado o Evangelho, administradas as ordenanças e celebrado o culto público.[4]

Logo, a Confissão não trata das marcas como os reformadores posteriormente trataram. Mas fala da pureza da igreja tendo como característica ensinar e abraçar o Evangelho, administrar as ordenanças, que são os sacramentos e o culto público. Já a Confissão Belga[5] no seu Artigo 29 apresenta as três marcas da igreja citadas no início desse ponto:
...As marcas para conhecer a verdadeira igreja são estas: ela mantém a pura pregação do Evangelho, a pura administração dos sacramentos como Cristo os instituiu e o exercício da disciplina eclesiástica para castigar os pecados. Em resumo, se orienta segundo a Palavra de Deus, rejeitando todo o contrário a essa Palavra e reconhecendo Jesus Cristo como o único Cabeça. Assim, com certeza, pode-se conhecer a verdadeira igreja; e a ninguém convém separar-se dela...[6]
            O que podemos deduzir de tudo que foi exposto é que não existe realmente um consenso sobre a quantidade das marcas de uma igreja fiel a Cristo! Todavia, as marcas existem e devem ser de acordo com as Escrituras e não com as experiências humanas. Continuo entendendo que as três marcas tradicionalmente usada pelos reformados: Pregação fiel da Palavra; exercício correto dos sacramentos; e exercício da disciplina cristã, continuam sendo as principais, mas que existem outras subdivisões dessas que são centrais. John Stott por exemplo dizia que a igreja deveria ter como marca: amor, sofrimento, santidade, sã doutrina, autenticidade, evangelização e humildade.[7] O teólogo de Genebra, João Calvino assim se expressou sobre as marcas da igreja de Cristo: Onde quer que vejamos a palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos os sacramentos serem administrados segundo a instituição de Cristo, aí de modo nenhum se há de contestar estar presente uma igreja de Deus.[8] Mas o consenso maior entre os reformados e as confissões são as três marcas até aqui enfatizadas.
            É importante falarmos sobre as marcas da igreja no século XXI, onde enfrentamos outros desafios em relação a essência e característica da igreja de Cristo. Em um país que estima-se ter em torno de 40 a 60 milhões de evangélicos, nas suas variadas e muitas vezes “criativos” nomes de denominações, precisamos desenvolver uma visão bíblica de eclesiologia. Sabendo o que é imutável no caráter e essência de uma igreja verdadeira e o que é até certo ponto flexível. As marcas que abordamos de uma igreja fiel são imutáveis, inegociáveis, mas governo de igreja, forma de batismo se por imersão, efusão ou aspersão, são questões flexíveis e toleráveis nas suas muitas perspectivas, no meu entendimento! Para fundamentar essa ênfase nas três marcas, abaixo exponho resumidamente cada ponto, com os respectivos textos bíblicos:
  • Primeira Marca: Pregação Fiel das Escrituras -  Todas outras marcas da igreja, compreendendo serem mais duas ou se defender que são mais, dependem totalmente dessa primeira! A igreja nunca terá uma pregação perfeita, mas sempre examinará sua pregação a partir das Escrituras (1 Jo 4.1-3; Ef 2.20; II Tm 4. 1-5; At 2. 42; II Tm 2.15,24-26; Ef 4. 7-16).
  • Segunda Marca da Igreja: Administração Correta dos Sacramentos – Os Sacramentos, batismo e Ceia, só tem conteúdo derivado da Palavra de Deus. É nela que encontramos o real sentido de cada um deles. Por isso, esses sacramentos devem ser ministrados por legítimos ministros do Evangelho, devidamente qualificados. Por isso, os sacramentos perdem seu sentido ao serem ministrados por falsos pastores, que introduziram heresias no sentido real de cada sacramento (Mt 28. 19; Mc 16.15-16; At 2. 42; 1 Co 11. 23-30).
  • Terceira Marca da Igreja: O fiel exercício da Disciplina -  A disciplina na igreja visa três efeitos básicos: vindicar a honra de Cristo publicamente; corrigir o irmão em pecado; e causar temor na igreja em relação a pecar contra Deus. Vemos isso em vários textos bíblicos como Gálatas 6. 1-4; 1 Coríntios 5. 1-5; Mateus 18.18; Atos 5. 1-11 e outros.
A igreja Evangélica, na sua maior parte, tem essas características essenciais? A reposta que veio a sua mente ao entender o que a Escritura ensina, revela a causa de tanto distanciamento da igreja moderna do Evangelho de Cristo! Pense sobre isso e procure congregar onde essas marcas estão presentes!
Reverendo Márcio Willian Chaveiro



[1] GRUDEM,1999, p.715
[2] TILICH, Paul Tilich, 1967, p. 673
[3] BERKHOF, Teologia Sistemática, 1998, p.580
[4] http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm
[5] A Confissão Belga foi a primeira confissão reformada, originada na região da atual Bélgica, em 1561. O principal autor dela foi o reformador Brés, um pregador reformado que martirizado em 1567 (fonte: Bíblia de Estudo de Genebra, Revisada e Ampliada, 2009).
[6] JR, Richard L. Pratt Jr., Bíblia de Estudo de Genebra, 2 Edição Revisada e Ampliada, 2009, São Paulo, p.1757
[7]DEVER, Mark Dever, Nove Marcas de uma Igreja Saudável, Editora FIEL, 2007, São José dos Campos, p.22
[8] Cf.  DEVER, 2007, p. 23

É FÁCIL SER PASTOR PARA AQUELES QUE...!



              É fácil ser pastor para aqueles que não são verdadeiramente chamados pelo Senhor! Para aqueles que não sofrem pelo Evangelho, pela Igreja, pela Verdade! É fácil ser pastor para aqueles que não se esmeram no ensino da Palavra para a manejar bem (1 Tm 5.17;2 Tm 2.15)! É fácil para aqueles que o ministério é um “complemento salarial” e não sua missão como de um soldado que deseja satisfazer aquele que o arregimentou, que batalha conforme as normas do Evangelho e planta para a glória de Deus (2 Tm 2.4)! Para aqueles que são impostores, que enganam e são enganados (2Tm 3.13)! É fácil para aqueles que usurpam da igreja seus recursos e não o sustento digno de um verdadeiro ministro, que são dominadores e desejam ser bajulados o tempo todo pela igreja (1Pe 5.2)! Para aqueles ministros que agem politicamente correto, que nunca tratam os problemas reais da igreja, para não perder o “emprego” ou as regalias que adquiriu! É fácil para aqueles que só pensam em si mesmos e nos benefícios momentâneos para suas famílias enquanto estão pastoreando em algum campo que proporciona essa situação! Para aqueles que vivem ociosamente a semana toda e no domingo pregam sermões superficiais recheados de piadas sem graça e desprovido de exposição bíblica! Pastores que durante a semana toma leite e no domingo querem produzir puro creme! O Dr. Augustos Nicodemus disse que ministros que não foram chamados por Deus é a raiz de todos os males na igrejas locais e nos concílios eclesiásticos![1]
            O ministério fiel é luta, sofrimento, altruísmo para aqueles que são verdadeiramente chamados! Esses participam dos sofrimentos de Cristo, mesmo sendo co-participantes da glória que há de ser revelada (1 Pe 5.1)! Os pastores vocacionados pastoreiam voluntariamente, mesmo quando a igreja não o reconhece e não o sustenta para desenvolver melhor o seu trabalho sem maiores preocupações (1 Co 9. 6-9; 1 Pe 5.2)! O ministro fiel se esmera na Palavra não por obrigação, mas porque ama estudar e conhecer a Deus para instruir o rebanho (At 20.27)! Cuida de si mesmo antes de cuidar do rebanho (At 20.28)! O pastor que segue o Supremo Pastor tem consciência que seu dom é para edificar os crentes para que sejam progressivamente semelhantes a Cristo e não para ter admiradores (Ef 4. 11-16)! O ministro fiel protege o rebanho dos lobos, combate o bom combate e quando está próximo de sua partida, guarda seguramente a fé, e aguarda ansiosamente a coroa que lhe esta guardada (At 20.29; 2 Tm 4. 6-8)! O pastor vocacionado nunca se envergonha do Evangelho porque é o poder de Deus e sabe que o Senhor é fiel para guardar o seu deposito até o fim (Rm 1.6); 1 Tm 1. 12)!
O ministro verdadeiramente vocacionado tem sua vida construída sob a Escritura, porém, interpreta o seu tempo adequadamente e aplica o ensino do texto bíblico a realidade de suas ovelhas! Falando sobre a importância da pregação dos pastores, John Stott afirmou: o sermão que o pastor prega deve ser uma ponte entre dois mundos: o texto antigo e o ouvinte contemporâneo. O pastor precisa conhecer esses dois mundos: tanto o texto quanto seus ouvintes.[2] Uma ovelha instruída desejará acima de qualquer coisa que seu pastor se dedique ao estudo fiel das Escrituras, porque terá sempre nos estudos e mensagens dominicais, alimento solido!
Um pastor genuíno não molda seu ministério ou sermões ao gosto dos ouvintes, mas a ordem do Supremo Pastor (2 Tm 4.1-2). O fiel ministro sempre corre risco de não ser aceito e também de ser confrontado com a própria mensagem, como afirmou Ralph Lewis:
Mas um ministério significativo requer mais do que arriscar nossos sermões. Pode significar riscos para nós mesmos. Significa colocar-nos no banco da igreja com nosso povo, admitindo nossa condição humana a nós mesmos e a eles, e pregar com a convicção de que todos somos “cooperadores de Deus.[3]
Porque existem igrejas fracas? A causa principal é o ministro preguiçoso atrás do púlpito! Não digo fraqueza da igreja com relação a números apenas, porque isso pode ser enganoso, mas com relação a vida de piedade dos membros! John Stott disse:
Nossa adoração é fraca porque nossos conhecimentos de Deus são fracos, e nossos conhecimentos de Deus são fracos porque a nossa pregação é fraca. Quando, porém, a Palavra de Deus é exposta na sua plenitude e a congregação começa a ter um vislumbre da glória do Deus vivo, todos se curvam em reverente temor solene e admiração jubilosa diante do seu trono. É a pregação que realiza isso – a proclamação da Palavra de Deus no poder do Espírito de Deus. É por isso que a pregação é incomparável e insubstituível.[4]
O pregador precisa ser fiel exegeticamente a Escritura, como disse  Stuart Olyott na mesma perspectiva afirmou:
Pecamos quando pregamos aquilo que achamos que as Escrituras afirmam, e não pregamos o seu verdadeiro significado. Também pecamos quando pregamos os pensamentos que a Palavra desperta em nosso intelecto e não aquilo que a Palavra realmente declara. Um arauto é um traidor, se não transmite exatamente o que o Rei diz. Quem ousará colocar-se diante de uma congregação e proclamar: Assim diz o Senhor”, afirmando em seguida, no nome do Senhor, aquilo que Ele não disse? Precisamos enfatizar novamente: na pregação, não existe nada – nada mesmo – que seja mais importante do que a exatidão exegética.[5]
O Reverendo Hernandes Dias Lopes fala sobre o tipo de pastores que a igreja precisa:
Precisamos de pastores que amem Deus mais do que seu sucesso pessoal. Precisamos de pastores que se afadiguem na Palavra e tragam alimento a intimidade de Deus para o povo. Precisamos de pastores que conheçam a intimidade de Deus pela oração e sejam exemplo de piedade para o rebanho. Precisamos de pastores que deem a vida pelo rebanho em vez de explorarem o rebanho. Precisamos de pastores que tenham coragem de dizer “não” quando todos estão dizendo “sim” e, dizer “sim”, quando a maioria diz “não”. Precisamos de pastores que não se dobrem ao pragmatismo nem vendam sua consciência por dinheiro ou sucesso. Precisamos de pastores fiéis e não de pastores populares. Precisamos de homens quebrantados e não de astros ensimesmados.[6]
            Muitos pastores serão condenados eternamente no inferno por sua infidelidade e impiedade, por adorarem seu próprio ventre, por nunca terem se rendido aos pés de Cristo  (Mt 7. 15-23; Fl 3.19)! Por isso Tiago disse que os mestres passarão por maior juízo (3.1): Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo. O ministério traz consigo grande responsabilidade para aquele que o exerce! Como bem colocou o grande pastor de Kidderminster Richard Baxter (1615-1691): Deus não faz acepção de pessoas. Ele não me salva por causa do meu colarinho  clerical, nem por causa da minha vocação ministerial. Uma santa vocação não salvará um homem que não é santo.[7]
            O Dr. Carson diz que é importante honrar aqueles ministros que se dedicam a escrever livros, artigos, dar treinamento pastoral! Contudo, muitos destes não creem no poder da Palavra: ...É possível escrever comentários sem lembrar constantemente que Deus mesmo está presente e se revela mais uma vez ao seu povo, por meio da Palavra.[8] Mais adiante ele afirma que o pastor acadêmico precisa sair dos seus portões eclesiásticos e se envolver na cultura através de um contato pessoal e não teórico, influenciando intelectualmente e evangelizando: Se você é um acadêmico, precisa colocar-se em situações em que, por assim dizer, toma de vez em quando o seu lugar nas tropas da linha de frente. Isso significa engajamento no mundo exterior em um nível pessoal, em um nível intelectual e cultural; significa trabalhar e servir a igreja local; significa engajar-se na evangelização...[9]
            Eu sei que os ministros fiéis não se sentirão ofendidos com esse artigo, mas os ministros infiéis, construirão várias críticas e desculpas para continuarem na infidelidade e comodidade que vivem! Cada um de nós prestará conta diante do Supremo Pastor, e não existirá justificativa para negligência pastoral!
 Ser pastor conforme a Bíblia exige, é muito difícil, somente pela graça e poder do Espírito Santo podemos exercer progressivamente o nosso ministério de forma fiel! Por isso, o verdadeiro vocacionado tem alvo, que é agradar o Supremo Pastor, o glorificar e se sente sempre devedor! Sabe que sua coroa de glória imarcescível será entregue no final da caminhada (1 Pe 5.4)!
 Que Ele ajude a todo pastor verdadeiramente chamado, a ser o que deve buscar ser, para a glória dele! A Ele toda a glória, amém!
Márcio Willian Chaveiro
           



[1] LOPES, Augustus Nicodemus, Interpretando a Carta de Tiago, Cultura Cristã, 2006. p. 122
[2] LOPES, Hernandes Dias Lopes, De: Pastor A: Pastor, HAGNOS, 2010, p.46
[3] LEWIS, Ralph Lewis com Gregg Lewis, Pregação Indutiva, 2003, Cultura Cristã, p. 28
[4] STOTT, John Stott, Eu Creio na Pregação, São Paulo, Editora Vida, 2003, p. 89
[5] OLYOTT, Stuart Olyott, Pregação Pura e Simples, Editora FIEL, 2008
[6] LOPES, Hernandes Dias Lopes, De: Pastor A: Pastor, HAGNOS, 2010
[7] BAXTER, Richard Baxter, O Pastor Aprovado, PES, 1996,p.59
[8] CARSON, D. A. Carson & John Piper, O Pastor como Mestre e o Mestre como Pastor, FIEL, 2011,  p.96
[9] CARSON, 2011, p. 96